Escrevi esse texto em meados de 2010, quando ainda estava grávida, depois de participar de um maravilhoso encontro do Grupo De Gestantes do HU - UFSC. Saí de lá com todas essas informações fervilhando na minha cabeça e achei que seria muito importante compartilhá-las com outras gestantes. Agora tenho a feliz oportunidade de compartilhar aqui no Gaia também!
É claro que esse texto não aborda todas as nuances desse processo tão rico que é o amamentar um filho, porém apresenta algumas dicas básicas e informações práticas que considero muito relevantes.
Com muito carinho,
Bárbara Marques Nunes.
Amamentação: Algumas informações importantes de saber antes do parto
Preparo das mamas: não existe nenhuma evidência de que esfregar com bucha,
toalha, ou fazer rotação dos mamilos possam prevenir as fissuras, porém existem
profissionais que defendem essas técnicas fortalecem a aréola, assim como o
banho de sol. Não se deve passar nenhum produto (óleos, hidratantes,
pomadas...) nos mamilos, pois além de deixar a pele mais fina eles obstruem
pequenas glândulas que surgem ali para a lubrificação do mesmo. Essas glândulas
são como pequenas espinhas, bolinhas, que aparecem durante a gravidez (não
devem ser cutucadas ou espremidas). Cada mulher tem o mamilo diferente do
outro, em algumas o bico é pra fora, outras é liso e em outras, invertido,
porém nenhum deles impede a amamentação. O tamanho do seio não tem nenhuma
relação com a quantidade de leite que a mulher vai produzir. É muito importante
que a mulher seja informada e orientada sobre aleitamento durante o
pré-natal, porém muitas vezes esse assunto é deixado de lado pelos
profissionais da saúde que atendem a mulher. Procure ajuda, leia, informe-se,
vai ser de extrema importância mais pra frente.
Pega do peito pelo bebê: é muito importante que o seio
seja oferecido ao bebê o quanto antes após o nascimento. A equipe que assistirá o
parto deve colocar o bebê em contato com a pele da mãe logo que possível e após
a primeira troca de carinho o bebê vai procurar a mama ou ser levado a ela. É
importante que desde essa primeira mamada o bebê já pegue de forma correta,
pois se pegar errado já pode provocar fissura. Algumas mulheres já saem da sala
de parto com o mamilo fissurado pela pega errada. A pega correta é quando o
bebê abocanha a maior parte da aréola e não somente o biquinho, seu corpo deve
estar voltado para o corpo da mãe, um de frente pro outro, o queixinho encosta
no seio e a língua do bebê fica em baixo do mamilo, fazendo movimento ciliar
para ajudar o leite a sair. O bebê nasce com o instinto da sucção, porém não
nasce já sabendo mamar, é um aprendizado tanto para ele quanto para a mãe, esse
aprendizado requer muita paciência e uma boa rede de apoio, profissionais que
bem orientem a mãe e a família apoiando e incentivando. É um momento delicado e
de bastante fragilidade da mulher, portanto a última coisa que ela precisa é
ouvir histórias negativas sobre amamentação, leite fraco, esse tipo de coisa. A
mulher que está amamentando precisa de bastante repouso, tranqüilidade, se
manter bem alimentada e bem hidratada.
A descida do leite: o primeiro leite que sai do seio da
mãe é chamado de colostro. Ele é importantíssimo pois é rico em anticorpos da
mãe que passarão para o bebê, imunizando-o de muitos vírus e bactérias. Por ter
menos gordura, algumas pessoas acham que o leite é fraco e que o filho ficará com
fome, o que não é verdade, aquilo é o que ele necessita naquele momento. O bebê
não vai passar fome, ele nasce com uma reserva de nutrientes, e é normal que
nos primeiros 5 dias ele emagreça, perca até 10% do seu peso inicial, pois ele
irá desinchar e eliminar resíduos, depois disso é que começa a engordar.
Ali pelo terceiro, quarto dia, quando acontece a descida do leite, pode ser que
a mulher produza uma quantidade bem maior do que o bebê consegue ou precisa
mamar, as mamas ficam inchadas e duras, o que pode ocasionar dor. Nesse caso o
leite em excesso deve ser ordenhado (de preferência manualmente) e descartado
ou armazenado. Se for armazenar, deve ser guardado em vidros com tampas
plásticas, previamente esterilizados (fervidos), se congelados duram 15 dias, e
na geladeira 24 horas. Para oferecer esse leite ao bebê ele deve ser aquecido
em banho-maria e oferecido em copinho ou na seringa, evitando o uso da
mamadeira.
O seio muito cheio não deve ser oferecido ao bebê, antes da mamada a
mãe deve ordenhar um pouquinho para que a região do mamilo fique mais macia,
menos inchada, para que não ocorra a fissura, e assim oferecer o peito ao
filho. Com o passar dos dias a produção do leite vai se adequar à necessidade e
quantidades de mamadas do bebê
O leite - Propriedades e tempo da mamada: Não existe leite
fraco! O leite materno possui todos os nutrientes que o bebê precisa até os 6
meses de vida pelo menos, inclusive água. Não se deve dar água (nem chá, ou
suco) a um bebê que está em amamentação exclusiva de Leite Materno (LM). O
leite produzido no seio varia sua composição no decorrer da mamada, no decorrer
do dia e com o crescimento do bebê, ele vai se ajustando às necessidades
nutricionais do bebê. O leite que sai do peito no início da mamada é mais "aguadinho",
é muito rico em anticorpos e leucócitos, garantem a proteção do bebê. O leite
do meio da mamada é rico em proteína, elemento necessário à
"construção", ou seja, formação dos músculos, órgãos, etc. O leite
final da mamada é rico em gordura e vai garantir a saciedade e dar energia ao
bebê. Por isso, em cada mamada, é importante esvaziar um seio antes de oferecer o outro, sem tempo pré determinado.
O leite deve ser oferecido em livre demanda, ou seja, sem hora marcada. Cada
bebê vai ter uma necessidade diferente, pois alguns são mais vorazes e mamam
muito rápido, saciando-se rapidamente, outros são mais lentos, mamam mais
devagar, param pra descansar e voltam a mamar até se sentirem saciados, ou
cansados mesmo, por isso o tempo que o bebê passa no seio varia muito de um pra
outro. Não é necessário acordar um bebê para mamar, o sono deles é
importantíssimo e revigorante, a menos em casos muito específicos com
orientação médica. Algumas mães podem achar que seu leite é fraco ou que não
está sustentando seu filho, pois ele quer mamar muito, não parece saciado ou
acorda muitas vezes para mamar. Isso é um engano, pois esse é o ritmo desse
bebê, talvez ele mame menos a cada vez, ou mais devagar mesmo e necessite mais
mamadas. Isso não é nenhum problema, mas pode trazer muito cansaço e stress
para a mãe. Paciência e tranqüilidade são as melhores atitudes nessas horas,
bem como o apoio das pessoas próximas.
Leite Materno x Fórmulas (LMxLA): Ainda bem que existem as
fórmulas pra aqueles bebês que realmente não podem ser amamentados por suas mães. Porém deve-se ter muita cautela ao oferecer esse tipo de leite pro
bebê. A proteína do leite artificial é muito diferente da proteína do leite
materno, ele pode causar alergia no bebê, cólicas, não fornece todas as
vitaminas necessárias nem os anticorpos que tanto protegem o bebê, além do que,
ele é sempre igual, não é o cardápio super variado que é o leite materno. Pra
ter uma ideia, o bebê absorve 50% do ferro disponível no LM enquanto do LA ele
consegue absorver somente 4%, por essa razão muitos pediatras receitam
complementos vitamínicos aos bebês que estão com LA. O bebê que mama LA precisa
tomar água também, pois para metabolizar o LA órgãos como fígado e rim ficam
sobrecarregados e precisam sim de água. Às vezes pode-se ter a impressão que o
bebê alimentado com LA está mais saciado do que com o LM, por passar mais tempo
dormindo, sem chorar, com intervalos maiores entre as mamadas. Porém, a
diferença é que o LA "empapuça" o bebê, por ter proteínas muito
maiores. Para fazer uma comparação, seria a mesma diferença entre nós adultos
fazermos uma refeição leve e saudável, e sentir fome umas 2h depois, ou comer
uma feijoada bem pesada e passar o resto do dia sem querer (ou conseguir) comer
direito. Aqui falei alguns dos motivos do porque o LM é muito melhor para o
bebê do que o LA, acredito que existam mais um milhão de motivos além desses.
Chupeta e mamadeira: Muitas polêmicas sobre isso, afinal a
gente sempre ouve: "mas meus filhos todos tomaram mamadeira e chuparam
chupeta, e estão aí, ótimos e saudáveis!" Ainda bem né, poxa! Porém, a mamadeira
pode favorecer o desmame, ou seja, fazer com que o bebê largue o peito mais
cedo. Afinal, é muito mais fácil sugar o bico da mamadeira do que o do peito da
mãe, o leite sai facinho, o bebê não precisa fazer muito esforço (mamar no
peito é uma maratona pro bebê). Por não fazer esforço para sugar, a formação do
interior bucal fica prejudicada, podendo trazer complicações na arcada dentária,
na fala e na deglutição mais tardiamente. Além disso, o bebê que mama mamadeira
e chupa chupeta aprende a respirar pela boca. Até então, o bebê
respira somente pelo nariz, da forma correta. Quando aprende a respirar pela
boca, fica mais vulnerável a problemas respiratórios e infecções de garganta e
ouvido, e também pode trazer problemas na fala e nos dentes. Uma alternativa à
mamadeira, caso seja necessário, seria o copinho, sonda ou seringa, nesses 2
últimos casos se oferece o dedo mindinho da pessoa que está dando o leite para
o bebê sugar junto com o leite, é a forma mais parecida ao mamilo materno. Se
for totalmente impossível não oferecer bicos artificiais ao bebê, prefira os
ortodônticos, pois causam menos estragos (mas causam). O bebê sente imenso
prazer ao sugar, isso o reconforta e é sua primeira forma de reconhecer e se
relacionar com o mundo.
A amamentação é um momento de extrema importância para mãe
e filho. É onde se dá a nutrição física e emocional, onde se consolidam e
fortificam o vínculo mãe-bebê.
Desejo à todas as gestantes e mães que leram esse texto uma belíssima jornada nesse período tão especial, com todas as dores e delícias (muito mais delícias) do amamentar.
Com amor,
Equipe Gaia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário